Brasil, Índia, Itália, Reino Unido e Estados Unidos representam os maiores fracassos de resposta à Covid e, por isso, foram classificados como países “caóticos” pelo projeto Comparative Covid Response: Crisis, Knowledge, Politics (CompCoRe). China, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan como países “de controle” e Alemanha, Austrália, Áustria, França, Japão, Holanda e Suécia como “de consenso”. Pesquisadores de cada um desses países colaboraram com estudos de caso para a comparação.
Esta informação foi divulgada pela publicação de resultados preliminares de um estudo comparativo entre 16 países do impacto às respostas governamentais relacionadas a saúde pública, economia e política durante a pandemia da Covid-19. A publicação do estudo foi feita pela Universidade de Cornell e a Universidade de Harvard, ambas nos Estados Unidos.
Um dos dados mais reveladores do fracasso brasileiro foi a controversa demissão do popular ministro da saúde após a defesa de medidas de quarentena impostas por governadores e prefeitos, mas criticadas como economicamente ruinosas por Bolsonaro. Seu sucessor renunciou poucos dias depois, tornando o Brasil o único país do mundo à deriva em termos de gestão da pandemia durante algum tempo. Seguindo a deixa da postura pública de Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro zombou do vírus e defendeu uma política inviável de “isolamento vertical”, visando atingir os que correm mais risco e ao mesmo tempo manter a economia aberta. O número de mortos da Covid-19 no Brasil subiu para o segundo maior do mundo.
O projeto CompCoRe foi financiado pela National Science Foundation, agência governamental americana que promove o progresso da ciência, e pelo Schmidt Futures, instituição privada que busca aproximar cientistas da política pública. Os docentes e pesquisadores que participaram do estudo brasileiro foram Marko Monteiro e o pesquisador de pós-doutorado Alberto Urbinatti, da Unicamp, Gabriela Di Giulio, Ione Mendes e Felipe Reis, da USP, e Philip Macnaghten, da Universidade de Wageningen, na Holanda.
O Brasil está entre os países que mais chamaram atenção no estudo. Para Alberto Urbinatti, “a Covid-19 explicitou e aprofundou questões pré-existentes em cada país. Isto fica bastante evidente no caso brasileiro: uma intensa polarização política pré-existente deu o tom das respostas à pandemia, principalmente no que diz respeito às controvérsias que surgiram em torno das responsabilidades federal, estadual e municipal com as medidas de combate à Covid-19”. O relatório preliminar do estudo apresentou 3 tipologias diferentes de pensar as relações entre as respostas à pandemia e a forma como a sociedade aceitou ou reagiu a elas.
Mitos desmascarados
Os resultados preliminares do projeto indicam falácias comuns aos diferentes países analisados que, segundo os pesquisadores, precisam ser evitadas.
Os cinco principais lugares comuns que se mostraram falhos como referência para o combate à pandemia foram:
1) uma pandemia pode ser gerenciada por um “manual”. São poucas as normas que se aplicariam a todos os casos, realidades e novos eventos. Alguns países abandonaram manuais de pandemia para aplicar políticas públicas novas e bem sucedidas, assim como outros não entraram em consenso sobre seus manuais e acabaram fracassando;
2) em situações de emergência, as políticas públicas são mais importantes do que o contexto político; ou seja, o contexto político se mostrou definidor das políticas públicas ou ausência de sua aplicação, como nos casos em que polarizações raciais e econômicas se acentuaram e criaram desconfianças da elite governante ou no caso de sociedades consensuais em que se reforçaram os laços de solidariedade para o sucesso do enfrentamento;
3) os indicadores de sucesso e fracasso são sempre nítidos e os resultados podem ser bem definidos e medidos objetivamente. A pandemia mostrou que os dados podem ser escolhidos politicamente e valorados de forma diferente; especialistas divergem sobre quais indicadores são mais importantes e que decisões foram mais importantes para definir um quadro.
4) o assessoramento por cientistas permite que os formuladores de políticas definam as melhores políticas públicas em todos os casos. Em muitas localidades, as recomendações de cientistas se confrontaram com as dificuldades e desigualdades enfrentadas pelos gestores, pelas disputas político-ideológicas, assim como com o cansaço da população em lidar com o prolongamento de quarentenas; Cientistas não falam com uma única voz, divergem em diagnósticos e resultados, como demonstram as experiências de Brasil, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, por exemplo.
Fonte: Portal Vermelho