“Compra de vacina pelo setor privado não é proibida, mas é antiética”

A opinião é de Gonzalo Vecina Neto, que complementa: “A questão é o momento que estamos passando. Pessoas estão morrendo por conta dessa pandemia e existe uma escassez de vacinas. Não há doses suficientes para cobrir toda a população”. A objeção é compartilhada por outros especialistas, que também se manifestaram sobre a proposta

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O maior anseio da maioria dos brasileiros, no momento, é a vacina. Com a aprovação da Coronavac e do imunizante da Oxford/AstraZeneca pela Anvisa, o questionamento agora diz respeito a quando cada um será vacinado. No entanto, o governo federal apoiou a compra de vacinas pelo setor privado, o que desviou o assunto para uma questão ética. O professor Gonzalo Vecina Neto, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, que foi secretário nacional da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e diretor da Anvisa, é um dos especialistas que critica a possibilidade de vacinas serem desviadas da gratuidade e logística das organizações governamentais para a lucratividade excludente de instituições privadas.

A AstraZeneca declarou que não tem vacinas contra a covid-19 para fornecer à iniciativa privada. Em comunicado, disse que “no momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado”.

As clínicas, então, fecharam acordo com o laboratório indiano Bharat Biotech para a compra de cinco milhões de doses. Sobre isso, Vecina explica que não há nenhuma regra da Anvisa que proíba a compra de vacinas pelas clínicas privadas, sendo que muitas delas já vendem vacinas de todos os tipos.

Para o professor, “a questão é o momento que estamos passando. Pessoas estão morrendo por conta dessa pandemia e existe uma escassez de vacina, o que não acontece com as outras vacinas. Não há doses suficientes para cobrir toda a população”.

Vecina compara a situação com a fila para transplantes de órgãos. Não é possível que as pessoas paguem um determinado valor para irem para o topo da fila e ignorem os critérios médicos aplicados. Fosse o caso, a pessoa que pagasse teria uma condição diferente de sobrevivência em comparação aos outros da fila. “Não há moralidade que justifique isso”, enfatiza.

A chance das pessoas sobreviverem tem que ser igual, não muda porque eu tenho dinheiro”, afirmou.

Vacinas de Oxford/AstraZeneca -Fotos: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O Estado, então, deveria garantir que a fila seja moralmente defensável. Em seu julgamento, o grupo que está negociando a compra de vacinas com o laboratório indiano está “totalmente fora de esquadro, equivocado, não pode ser atendido”, já que as doses seriam exclusivamente vendidas em suas clínicas, não há nenhuma proposta de disponibilizar doses para o setor público.

Fonte: Portal Vermelho

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