ANÉSIA CAUAÇU E A PRESENÇA FEMININA NO CANGAÇO Jequié, Bahia (1916 – 1930)

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A caatinga é uma região agreste, onde as suas disposições sociais se voltam para a hegemonia dos coronéis, e, desta forma, também para o patriarcalismo. É neste ambiente que vamos encontrar Anésia Adelaide de Araujo ou mais conhecida como Anésia Cauaçu, uma mulher que sem dúvidas não se preocupa com estes conceitos, que não impediu de ser lembrada e permanecer na memória como heroína e líder do bando Cauaçu.

Devido a sua coragem e habilidade em manusear armas de fogo, coisa que naquela época apenas os homens faziam, Anésia tornou-se uma lenda no imaginário popular, onde a sua representação mais recorrente é a de uma mulher que rompe com os padrões de sua época. Uma construção na qual a força das armas a faz especial e diferente. Esta habilidade a aproximava do homem e somente uma mulher muito corajosa poderia dominá-la. Uma mulher de combate além de excelente atiradora, assim Anésia foi construída.

Combate e lutas constantes

Dentre as mulheres que estavam no campo de batalha contra a polícia, munidas de repetições, lutando com verdadeira “fúria” estavam Anésia Cauaçu, sua mãe Maria Galiana, suas irmãs e as esposas e amásias dos Cauaçus e de seus camaradas.

A liderança que Anésia Cauaçu mantinha no bando a diferenciava de outras mulheres que participaram de outros grupos do banditismo social como destaca Liniane Haag Brum: “Anésia, como se sabe, foi a primeira mulher a entrar para o cangaço. Diferente de Maria Bonita, jamais foi esposa do chefe do bando, mas, ao lado de seu irmão José Cauaçu, uma Lider ”.

Conforme Hobsbawm afirma em seu livro Bandidos o papel das mulheres no banditismo é o de amantes dos cangaceiros, não participavam das lutas, nem possuíam armas de fogo, as mulheres de um bando não ultrapassavam o seu papel sexual. A mulher também exercia outo papel dentro do bando, ela servia de ligação com o mundo externo, prestando ajuda aos parentes, maridos ou amantes.

Anésia Cauaçu vai desenvolver o que Hobsbawm denomina como o terceiro papel da mulher, em que a própria mulher torna-se bandida, combatente ativa, estando à frente da liderança do bando, em que só o sexo a distingui dos outros bandidos. Anésia conquista esse espaço devido a sua destreza como amazonas, sua habilidade com as armas e por sua valentia. Ela não ficava de fora dos ataques aos inimigos, principalmente por ela ser a líder do bando.

As mulheres em um âmbito geral, sempre ficaram à margem na historiografia, principalmente as que viveram na ilegalidade, como é o caso das cangaceiras. Os estudos sobre a mulher, geralmente recuperam os feitos das mulheres da elite que ganharam destaque nas mais diferentes sociedades por suas ações militantes e reivindicadoras como as feministas, que lutaram durante décadas para adquirir direitos como: educação, profissionalização e o exercício pleno da cidadania. Ganharam evidência ainda, as mulheres de projeção social reconhecidas por seus talentos na arte, na literatura, na pintura, na música e pelo grau de instrução.

O reconhecimento de que as mulheres tinham uma história e que era de suma importância buscar por ela, resultou dos próprios questionamentos que estas fizeram a respeito de si próprias, contestando uma estrutura de superioridade masculina fundamentada reconhecida e recusando a visão clássica da inferioridade do sujeito feminino. Para muitas, começou a parecer incômodo viver num mundo em que estivessem diluídas dentro da ideia de um sujeito universal. É a partir de suas lutas íntimas, que as mulheres iniciam um questionamento quanto à realidade social, criando os primeiros movimentos feministas, marcados por uma grande diversidade de reivindicações.

Origem

Anésia viveu na região de Jequié, interior da Bahia, no início do século XX.[1]

Ingresso no cangaço

Era uma dona de casa dedicada ao marido e à filha, mas abandonou essa vida para abraçar o cangaço, unindo-se a seus tios e irmãos, que formavam o bando dos Cauaçus.

Carismática e bonita, Anésia era o membro mais célebre do bando pois, além de ter conhecimentos de táticas de guerrilha e uma mira infalível, também jogava capoeira. Um de seus grandes feitos foi de arrancar, com um tiro certeiro, a uma distância considerável, o dedo de um delegado que apontava aos policiais onde deveriam se posicionar, durante um tiroteio no centro de Jequié.

Vida após o cangaço

Em 1916 Anésia abandonou o cangaço e foi viver com a sua família sob a proteção de um fazendeiro que devia favores aos Cauaçus mas, traída pelo mesmo, foi entregue à polícia, e não houve mais notícias dela.

O escritor Ivan Estevam Ferreira, na obra “A Pedra do Curral Novo“, sugere que Anésia pode ter falecido em Jequié, e identifica-a com uma anciã que faleceu em 1987, aos 93 anos, que vivia sob os cuidados de pessoas caridosas.

http://www.encontro2016.bahia.anpuh.org/ https://pt.wikipedia.org/

 

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