Na primeira análise do resultado, os especialistas em questões eleitorais concordam que a consulta nas urnas correspondeu ao que foi expresso por milhões de chilenos na revolta popular de outubro de 2019 e no plebiscito do ano passado.
Não foram poucos os que usaram o termo “derrota contundente” para definir o desempenho da direita, também em consonância com o baixo apoio acumulado pelo governo de Sebastián Piñera e pela coalizão de partidos “Chile Vamos” que o apoia.
Para muitos chilenos que ouvimos nas ruas, a população “cobrou a conta” aos políticos que comandaram o país após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), sem mudar em nada o modelo neoliberal cunhado pela Constituição de 1980 e que desde então acumulou iniquidades cada vez mais profundas.
Consequentemente, nas eleições de governadores, prefeitos e vereadores, as urnas traçaram um quadro novo, em que a direita perdeu comunas (municípios) emblemáticas nas regiões Metropolitanas e em Valparaíso, as duas regiões mais importantes do país.
Assim, ao esperado triunfo do comunista Daniel Jadue na comuna de Recoleta (região metropolitana de Santiago), somou-se a vitória, no município de Santiago, de Irasí Hassler, também do Partido Comunista do Chile, que derrotou Felipe Alessandri, da “Renovación Nacional”.
Enquanto isso, nas comunas de Ñuñoa e Maipú, os candidatos da direita foram derrotados em ambas por representantes da Revolução Democrática, um dos partidos integrantes da Frente Ampla.
A coalizão governante “Chile Vamos” ficou com as comunas endinheiradas do leste da capital, além da reeleição dos prefeitos de La Florida e Puente Alto.
Em Valparaíso a vitória foi da Frente Ampla, com Macarena Ripamonti, que se tornou prefeita de Viña del Mar, tradicional feudo de direita.
No caso dos governadores regionais, por serem uma nova figura que substitui os prefeitos e que pela primeira vez foram eleitos pelo voto popular, não há ponto de comparação com as consultas anteriores.
Mas dos 16 governos regionais apenas três foram decididos no primeiro turno: Valparaíso (Frente Ampla), Aysén (Partido Socialista) e Magallanes (Independente), enquanto os 13 restantes devem ir para o segundo turno em 13 de junho e entre estes apenas um candidato da direita parte na frente.
Outro ponto é o resultado da eleição da Convenção Constituinte que redigirá a nova constituição do país.
Aqui a direita, com sua lista unitária “Vamos pelo Chile”, queria pelo menos 52 vagas, mas teve que se contentar com 37. A lista dos partidos da chamada “ex-Concertación” teve o mesmo destino, obtendo apenas 25 cadeiras.
Por outro lado, os independentes, nos quais nenhum especialista em matéria eleitoral apostava, alcançaram uma esmagadora maioria de 48 cadeiras, e também superaram todas as expectativas, com 28, a lista “Apruebo Dignidad”, do Partido Comunista do Chile, Federação Social Verde Regionalista e a Frente Ampla.
Os povos originários ocuparam 17 assentos, conforme planejado.
Como aspecto negativo, mas também esperado das megaeleições, a baixa afluência, com apenas seis milhões 458 mil 760 eleitores, 43,35% de presença, de acordo com a apuração final do Serviço Eleitoral.
Esse resultado foi previsto, em um país com abstencionismo historicamente muito pronunciado, e que nunca ultrapassou 40% nas eleições para cargos regionais.
Nesta ocasião, as autoridades eleitorais esperavam que a assistência chegasse a pelo menos 50%, equiparando-se com os resultados do plebiscito de outubro de 2020.
E embora a eleição de uma constituinte despertasse grande interesse, para muitos a situação pandêmica da Covid-19 que o país sofre, além do peso de votar em uma eleição complexa, com quatro cédulas e escolhendo entre mais de 16 mil candidatos, afetou o comparecimento.
Para especialistas e políticos, essas eleições foram uma prévia do que pode acontecer nas eleições presidenciais de novembro próximo, para as quais, garantem, os próximos meses envolverão no mundo político um profundo processo de reflexão e rearranjo de forças para enfrentar aquele momento.
Fonte: Portal Vermelho