Depois de uma movimentada sexta-feira na CPI da Pandemia – quando o deputado Luís Miranda (DEM-DF) envolveu diretamente o nome do líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), em um possível esquema de corrupção relacionado à compra da Covaxin –, a Comissão decidiu investigar também as negociações entre o governo brasileiro e o laboratório chinês CanSino sobre a compra da vacina Convidencia.
O Ministério da Saúde anunciou, há duas semanas, uma carta de intenção para a compra de 60 milhões de doses do imunizante por US$ 17 cada. Se o acordo se confirmasse, seria a vacina mais cara adquirida pelo Brasil (embora seja preciso notar que o regime é de dose única, o que reduz seu custo total). E, assim como no caso da Covaxin, seria intermediado por uma empresa brasileira, a Belcher Farmacêutica.
Mas a tratativa não foi adiante. Motivo: a fabricante chinesa desistiu ao saber que a Belcher é investigada pela Polícia Federal, suspeita de fazer parte de um esquema que superfaturou testes de coronavírus adquiridos pelo governo do Distrito Federal.
Tem mais. Já em março, o diretor presidente da Belcher, Emanuel Catori, esteva junto com os empresários bolsonaristas Carlos Wizard e Luciano Hang no grupo que fez lobby garantir a possibilidade de o setor privado comprar vacinas. O trio chegou a se reunir com representantes da embaixada da China para discutir a aquisição de imunizantes do país. Aliás, A Belcher afirmou na época ter recebido autorização do Ministério da Saúde até para negociar doses da CoronaVac.
A Belcher entrou com um pedido de uso emergencial da Convidencia junto à Anvisa em maio, mas o processo ainda está em análise.
Vale lembrar que Ricardo Barros pressionou tanto pela aprovação da vacina da Cansino como da Sputnik V. Sua compra também é intermediada no Brasil por uma empresa, a União Química, que nunca havia produzido vacinas antes. O presidente da farmacêutica, Fernando Marques, chegou a enviar um áudio de WhatsApp a Luciano Hang reclamando que havia um monopólio na produção de vacinas no Brasil:
A ver se a CPI irá enveredar também por esta via. Hoje de manhã, o Estadão indicou que sim. Segundo a reportagem, o contrato com a União Química para a compra de 10 milhões de doses por parte do governo federal envolvia um custo de R$ 12,60 por dose; o Consórcio do Nordeste conseguiu um preço mais baixo, de R$ 9,95 – numa negociação direta com o Fundo Soberano Russo, sem intermediários.
O Senado chegou a aprovar uma Medida Provisória que retirava da Anvisa a prerrogativa de analisar tecnicamente determinadas vacinas contra a Covid-19, tornando a autorização no Brasil automática para aquelas aprovadas em uma série de países – entre eles a Rússia. O dispositivo foi vetado depois, na sanção.
Fonte:SBBA