COMISSÃO DE ÉTICA INVESTIGA SE CAMPOS NETO SE BENEFICIOU DE DECISÕES DO BC

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Possível detentor de um fundo exclusivo e dono de offshores milionárias, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mesmo ocupando um alto e influente cargo público, pode estar no seleto grupo que sempre colocou dinheiro lá fora para não pagar imposto e ainda fatura com títulos da dívida pública.

A investigação sobre a possibilidade óbvia de conflito de interesse nesses casos — deixada de lado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que o indicou ao cargo — só está tendo desdobramentos agora. E finalmente, o processo aberto para tratar do tema entrou na fila de apreciação da Comissão de Ética Pública, órgão da Presidência da República.

As informações foram publicadas pelo jornalista André Barrocal, da revista CartaCapital, em sua edição mais recente. A reportagem destrincha as posses de Campos Neto nessas offshores e aborda a suspeita de que ele também detenha um fundo exclusivo — o que, em caso positivo, o colocaria nos dois lados do balcão: o de quem faz parte do grupo que determina a política monetária e o de quem dela se beneficia.

No caso das offshores, a reportagem lembra que, conforme currículo enviado ao Senado quando da sua indicação ao cargo, Campos Neto teria quatro empresas: Peacock Asset, COR Asset, ROCN e Darling Corp. Uma delas, a COR Asset, fez parte do Pandora Papers, apuração que, em 2021, revelou nomes de figurões que tinham negócios em paraísos fiscais. Vem daí a abertura de apuração que, no entanto, ficou em “banho-Maria” nos últimos anos — inclusive, o chefe do Ministério Público Federal em 2021, Augusto Aras, chegou a instaurar uma averiguação preliminar, mas arquivou o caso.

A reportagem mostra que Campos Neto havia constituído a firma em 2004, com US$ 1 milhão e “diz tê-la fechado em agosto de 2020. Por 15 meses, tinha sido presidente do BC e ao mesmo tempo investidor offshore. Resumo da ópera: escapava de imposto no Brasil e podia aferir ganhos extras na hipótese de o dólar encarecer diante do real. O BC, registre-se, influencia o preço da moeda brasileira”.

No último dia 27 de setembro, quando o assunto seria analisado pela Comissão de Ética, Campos Neto obteve uma ordem judicial que impediu qualquer deliberação a respeito. Nessa mesma data, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou pedido à mesma comissão a fim de que seja averiguado possível conflito de interesse no que diz respeito ao fundo de investimento atribuído a Campos Neto.

“Os investimentos do fundo exclusivo mantido no banco espanhol começaram em 29 de janeiro de 2019, um mês antes de Campos Neto assumir o BC. O montante guardado somava 12,5 milhões de reais na ocasião. Agora em outubro, chega a 30,5 milhões, crescimento de 144% em pouco menos de cinco anos. Em cifras, o aumento foi de 18 milhões de reais, média mensal de 315 mil. O salário do presidente do BC é de 18,8 mil”, afirma a revista.

Do total, 7,9 milhões (25%) são aplicados em títulos públicos, que têm como uma das referências usadas para remunerar um comprador a taxa básica do BC. “De sua entrada no banco até outubro de 2023, Campos Neto participou de 37 reuniões do Copom. A Selic estava em 6,5% quando de sua estreia no comitê e paira nos 12,75% desde 21 de setembro”, lembra a reportagem.

Durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Campos Neto foi questionado, por Lindbergh, sobre os fundos e as offshores. Mas, apenas disse que teria as empresas abertas lá fora há mais de 15 anos e que não movimentou esse dinheiro no exterior, pois terceirizou a gestão. No entanto, nada foi dito sobre os fundos exclusivos.

Após publicação da reportagem, o deputado petista declarou, pelas redes sociais: “Quando questionei se ele tinha fundos exclusivos remunerados pela Selic ou IPCA ele se calou na Câmara. Ali eu já sabia que ele tinha fundos exclusivos, ou seja, suas decisões no BC fazem ele ganhar mais ou menos dinheiro no mercado financeiro”.

Fonte: Vermelho

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