A Polícia Federal (PF) encontrou uma série de mensagens nos celulares do tenente-coronel Mauro Cid e de outros investigados que mostram que pelo menos seis oficiais-generais das Forças Armadas discutiram com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a edição de um decreto golpista contra a eleição de Lula (PT).
A Polícia Federal (PF) suspeita de seis oficiais-generais das Forças Armadas que articularam junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a edição de um decreto golpista que impedia a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A operação Tempus Veritatis deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta (8) mira 16 militares que, segundo as investigações, teriam participado da elaboração do golpe.
As mensagens foram usadas como prova pela PF para pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a realização da operação que mirou ministros, assistentes e aliados do ex-presidente.
Os oficiais-generais citados são:
- General Braga Netto (candidato a vice-presidente de Bolsonaro);
- General Estevam Theophilo (ex-chefe do Comando de Operações Terrestres);
- General Freire Gomes (ex-comandante do Exército);
- General Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa);
- General Augusto Heleno (ex-ministro do GSI);
- Glmirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha).100
Segundo a investigação, o Alto Comando das Forças Armadas —exceto o brigadeiro Baptista Júnior, da Aeronáutica— participaram de uma reunião em que foi apresentada a minuta de decreto golpista formulada pelo ex-assessor da Presidência Filipe Martins. O então ministro da Defesa também participou do encontro.
A versão apresentada aos chefes militares já havia passado por modificações. “Jair Bolsonaro teria lido e solicitado que Filipe alterasse as ordens contidas na minuta”, disse a PGR (Procuradoria-Geral da República) ao analisar os pedidos de buscas e prisões feitos pela PF.
“ESTEVAM THEOPHILO se reuniu com o então Presidente JAIR BOLSONARO no Palácio do Alvorada e, de acordo com os diálogos encontrados no celular de MAURO CID, teria consentido com a adesão ao Golpe de Estado desde o que presidente assinasse a medida”, disse a PF.
Em outubro de 2022, o líder da extrema-direita no Brasil foi derrotado nas eleições presidenciais em segundo turno pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro não passou a faixa e, nos meses entre a eleição e a posse, grupos extremistas bloquearam estradas, questionaram a validade do resultado e tentaram invadir a sede da PF em Brasília, entre outros atos.
Segundo a PF, as investigações apontam que o grupo se “dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.”
Primeiro, diz a Polícia Federal, o grupo atuou para construir e propagar a versão de que havia tido fraude na eleição de 2022, “por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022”.
Em seguida, foram desenvolvidos atos concretos para “subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível”.
A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta mira 16 militares das Forças Armadas que, segundo as investigações, teriam participado ativamente da elaboração e articulação do golpe de Estado.
Os agentes descobriram que militares da ativa pressionaram colegas contrários ao golpe a aderirem ao movimento. O ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, o coronel Mauro Cid, chegou a receber um pedido de R$100 mil para ajudar na organização dos atos golpistas.
Membro do núcleo duro do bolsonarismo, o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Augusto Heleno foi flagrado pelos investigadores incentivando o golpe. Em reunião feita em 2002, o general Heleno cobrou que órgãos do governo deveriam atuar para assegurar a vitória de Bolsonaro nas eleições.
“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse Heleno, de acordo com a PF. “Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas.”
Heleno também é investigado no caso da Abin paralela, que apura como a agência de inteligência foi cooptada pelo bolsonarismo para espionar ilegalmente atores da República que atuavam, nos termos da lei, contra os malfeitos da família bolsonaro e da extrema-direita.
Outro militar envolvido, o general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, no dia 9 de dezembro de 2022, e se colocou à disposição para aderir ao golpe de Estado.
A PF identificou conversas obtidas no celular de Mauro Cid que comprovam as intenções golpistas do general Theóphilo
De acordo com as investigações, a condição de Theóphilo para aderir ao golpe e colocar tropas especiais nas ruas seria a assinatura, por Bolsonaro, de uma minuta que determinasse o golpe de Estado.
Fonte: Vermelho