Após pouco mais de um mês do início das enchentes, o Rio Grande do Sul batalha para se reerguer. Se no começo, a urgência era o socorro e o atendimento às vítimas, agora, a fase é de calcular a destruição e preparar a reconstrução de grandes dimensões que a nova realidade impõe.
Os números impressionam. Segundo informações da Defesa Civil do RS, de 497 municípios, 476 foram afetados — o que corresponde a 95% do total. Com uma população de mais de 8,5 milhões, cerca de 2,4 milhões de pessoas foram atingidas — o que significa cerca de 28%.
Até o momento, 172 mortes foram confirmadas, 44 pessoas seguem desaparecidas e mais de 800 ficaram feridas. Cerca de 575 mil ficaram desalojadas e 35 mil estão em abrigos. Cerca de 100 mil casas foram destruídas.
Os prejuízos ainda estão sendo contabilizados, mas estimativas divulgadas até o momento dão uma noção do estrago geral. Segundo a Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul), a reconstituição da infraestrutura pode custar entre R$ 110 bilhões e R$ 176 bilhões.
Em meados de maio, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) calculava que o prejuízo financeiro das cidades gaúchas ultrapassa os R$ 10 bilhões.
Documento elaborado pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) aponta que, no meio rural, quase 19,2 mil famílias tiveram perdas relativas às estruturas das propriedades.
Em relação à agroindústria, dados preliminares apontam prejuízos para cerca de 200 empreendimentos familiares. Ao todo, foram prejudicados cerca de 49 mil produtores de grãos, grande parte de milho e soja. Ainda de acordo com o levantamento, considerando o volume, a maior perda ocorreu na produção da soja. Foram 2,71 milhões de toneladas perdidas.
“A produção pecuária gaúcha também foi severamente impactada, exigindo longo período para recuperação. As perdas de animais afetaram de forma significativa 3,7 mil criadores gaúchos. O maior número de animais mortos foi de aves, totalizando 1.198.489 indivíduos adultos. Também houve perdas substanciais de bovinos de corte e de leite, suínos, peixes e abelhas”, destaca a análise.
No caso das frutas, os citros, na região dos Vales, e a banana, nas encostas da Serra do Mar, foram as culturas mais prejudicadas, com impacto para 8,3 mil propriedades.
No caso do setor automobilístico, o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículo (Sindicov-Fenabrave) calcula perdas em torno de R$ 1,5 bilhão.
Federações representativas do comércio, dos serviços, da indústria e da agropecuária calculam perdas de R$ 40 bilhões para a atividade econômica. A retração na produção gaúcha é projetada em 6,25% e o PIB, que tinha um aumento de 4,7% estimado para este ano, terá perda de 0,6%.
As projeções de economistas quanto ao impacto dessas perdas no PIB nacional ficam em torno de 0,2% e 0,3% no segundo trimestre. Mas, conforme noticiado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) evita cravar um percentual por ora.
A extensão e profundidade do desastre colocam uma série de desafios, aos governos e à sociedade, para que o Rio Grande do Sul possa se reconstruir e avançar. Neste sentido, o Estado tem papel central. No caso do Governo Federal, recursos bilionários vêm sendo aportados desde o socorro imediato até o processo de retomada das atividades econômicas.
Segundo o site Brasil Participativo, que concentra as medidas tomadas pelo governo Lula, até o momento, os investimentos no estado somam R$ 85,7 bilhões. Soma-se a isso a suspensão da dívida do estado por três anos, num total de R$ 23 bilhões (R$ 11 bi da suspensão e R$ 12 bi dos juros e correção).
No caso do Auxílio Reconstrução — pagamento em parcela única de R$ 5,1 mil para os atingidos — até a quinta (6), 99,8 mil famílias haviam sido beneficiadas, num valor total de quase R$ 510 milhões. O Saque Calamidade, do FGTS, já chegou a R$ 1,4 bilhão.
Outra medida lançada foi a compra de imóveis já prontos para atender aos desabrigados pelas enchentes no estado. Os imóveis serão destinados a famílias das faixas 1 e 2 do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com renda mensal de até R$ 4,4 mil.
Fonte: Vermelho