O Ministério Público do Trabalho (MPT) moveu uma ação civil pública contra a Volkswagen do Brasil, acusando a montadora de submeter trabalhadores a condições análogas à escravidão em sua Fazenda Vale do Rio Cristalino, no Pará, entre 1974 e 1986, durante a ditadura militar. A denúncia aponta que a empresa utilizou um esquema de tráfico de pessoas, submetendo trabalhadores a jornadas exaustivas, violência física e psicológica, servidão por dívidas e condições precárias de saúde e higiene.
A fazenda, pertencente à subsidiária da Volkswagen, recebeu incentivos fiscais e recursos públicos de cerca de R$ 500 milhões (valores corrigidos até 2022).
Enquanto diretores e funcionários administrativos desfrutavam de boa infraestrutura, trabalhadores braçais enfrentavam graves violações de direitos, incluindo falta de água potável, alimentação precária e ausência de atendimento médico adequado, mesmo em casos graves como surtos de malária.
O MPT, após tentativas frustradas de acordo com a empresa, solicita uma indenização de R$ 165 milhões por danos morais coletivos e pede a implementação de medidas preventivas contra o trabalho escravo na cadeia produtiva da Volkswagen.
Além disso, destaca que a empresa deve reconhecer publicamente as violações e criar canais de denúncia eficazes. Esta não é a primeira vez que a Volkswagen é acusada de crimes durante a ditadura. Em 2020, a montadora admitiu colaboração com o regime militar, incluindo a entrega de informações sobre trabalhadores às forças de repressão, e pagou R$ 36,3 milhões em indenizações a vítimas de perseguição, tortura e prisão. Caso o pedido do MPT seja aceito, será a maior indenização da história brasileira em casos de trabalho escravo.
A ação reflete o esforço contínuo de organizações como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em expor abusos históricos, reforçando a importância da memória e da reparação em prol da justiça
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