Não demorou muito para que desinformação e tentativas de golpes chegassem para surfar na onda das fraudes envolvendo descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). E, a exemplo do que aconteceu na crise do Pix, o deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL) fez vídeo que viralizou, também espalhando desinformação.
Enquanto o Executivo federal estuda a forma como vai ressarcir o prejuízo de aposentados e pensionistas que tiveram descontos não autorizados em seus pagamentos, promovidos por associações e sindicatos, golpistas têm se aproveitado para tentar enganar as vítimas.
Governo federal e INSS têm feito alertas aos beneficiários para que fiquem atentos e não caiam em armadilhas virtuais. Criminosos têm se aproveitado para aplicar novos golpes, disseminando fake news (notícias falsas) sobre o ressarcimento. As fraudes incluem mensagens enviadas por e-mail e WhatsApp prometendo devolver o dinheiro cobrado indevidamente.
Operação realizada pela Polícia Federal e pela CGU (Controladoria-Geral da União) no último mês apontou o esquema fraudulento de descontos no período de 2019 e 2024. O prejuízo total pode chegar a R$ 6,3 bilhões no período investigado.
Um relatório da CGU, obtido pelo ICL Notícias, identificou 157 entidades com convênios ativos com o INSS. Destas, 96 foram analisadas em profundidade. Apenas uma minoria demonstrou possuir documentação regular, sede física real e práticas mínimas de transparência e governança. Ademais, das 10 entidades que mais arrecadam via folha do INSS, 5 atuam desde antes de 2023.
Notícias divulgadas pela grande imprensa expõem relatos de aposentados e pensionistas com denúncias de que os descontos acontecem antes de 2019. Porém, a operação abrange apenas o período de 2019 a 2024.
O escândalo provocou a saída do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, na última sexta-feira (2), sob acusação de omissão, e do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que foi demitido.
Golpe inclui link para devolução de valores descontados na folha do INSS
Entre os golpes que vêm sendo aplicados está o envio de mensagens que oferecem um link para supostamente agilizar a devolução dos valores descontados. O conteúdo dessas mensagens é falso e visa roubar dados pessoais das vítimas.
O link leva a um site que simula ser uma plataforma oficial do governo, com símbolo “gov.br”, mas exige CPF e cobra uma taxa de R$ 61,90 para liberar a suposta indenização.
Diante da onda de notícias falsas e tentativas de golpes, o governo orienta aposentados e pensionistas:
Não clicarem em links enviados por mensagens ou e-mails que prometem devolução de dinheiro.
Conferir informações somente por meio de canais oficiais do INSS ou do governo federal.
Denunciar tentativas de golpe às autoridades competentes.
Na terça-feira (6), o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, afirmou que o ressarcimento dos descontos irregulares será feito diretamente pelo benefício. Em entrevista à rádio CBN, ele descartou a possibilidade de fazer por Pix.
Segundo Waller, os valores serão creditados na mesma conta onde os beneficiários já recebem mensalmente sua aposentadoria ou pensão. O ressarcimento será incluído em uma folha suplementar, mecanismo usado para efetuar pagamentos adicionais fora da folha principal.
“Na mesma conta que ele recebe, o seu benefício previdenciário vai ser depositado. Por isso eu peço, é para todos, não caia em outros golpes, não assine nada, não abra link, não acredite em ninguém que esteja vendendo facilidade”, alertou o presidente do INSS.
O INSS promete indenizações que variam de R$ 2 mil a R$ 8 mil para aposentados.
Nikolas Ferreira (de novo!) viraliza espalhando desinformação
Um vídeo do deputado Nikolas Ferreira sobre o caso, publicado na terça-feira (6), tinha, até a quarta-feira (7), atingido 103 milhões de visualizações. Na peça, ele diz que caso é o “maior roubo da história” e usa efeito para ficar mais velho em alusão aos aposentados lesados.
O parlamentar afirma que a fraude movimentou R$ 90 bilhões em 2023. Na realidade, esse é o valor total de empréstimos consignados liberados para beneficiários no ano passado. A fraude, segundo a PF, está estimada em R$ 6,3 bilhões.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, rebateu as declarações e ressaltou que as investigações e operações contra as fraudes ocorreram durante o governo Lula. “Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS”, afirmou.
Redes sociais
Dados publicados por reportagem do jornal O Globo apontam que o número de menções à crise do INSS e temas relacionados ao assunto já superaram a repercussão nas redes sociais da crise do Pix enfrentada pelo governo em janeiro deste ano. O levantamento, a pedido do jornal, foi feito pela consultoria Bites.
Os números mostram que o debate vem sendo amplamente dominado pela oposição ao governo.
Desde o dia 23 abril, quando o assunto veio a público, foram publicados 4 milhões de menções às denúncias de fraude do INSS, à queda do ministro Carlos Lupi ou a termos relacionados.
Esse volume já é maior do que as 2,7 milhões de menções ao Pix nos 15 dias em janeiro em que o tema se tornou uma crise para o governo.
O vídeo de Nikolas impulsionou as menções sobre o tema e se igualou ao volume observado no dia 24 de abril, logo após a operação policial.
Fonte: ICL100