Militares de alta patente já se deram conta de que é preciso se livrar de um entulho chamado Jair Messias Bolsonaro. Conforme pesquisas recentes, a credibilidade das Forças Armadas é cada vez mais questionada diante do envolvimento de oficiais em irregularidades e crimes do ex-presidente.
Mas a revelação de que o general Mauro Lourena Cid participou ativamente do escândalo das joias sauditas foi a gota d’água. Segundo a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, “o suporte de Bolsonaro entre os fardados ruiu” após essa denúncia. Pior: a aposta da cúpula das três Forças é que Bolsonaro não conseguirá escapar de condenações nem da prisão.
Na sexta-feira (25), a colunista Bela Megale, do O Globo, informou que Exército, Marinha e Aeronáutica tinham motivos para “lavar as mãos” a esta altura das investigações contra o ex-presidente. “Nas Forças, a leitura é que uma eventual prisão de Bolsonaro não terá ‘reflexo algum’ entre os militares da ativa e não será capaz de gerar mobilizações entre os membros da reserva”. O principal motivo é que o apoio a Bolsonaro “diminuiu com as provas que vieram à tona” no caso das joias.
Ainda assim, a previsão de dias piores para Bolsonaro levou os comandantes militares a uma operação de afastamento do ex-presidente, numa tentativa de blindar a imagem das Forças Armadas. De acordo com Bela Megale, “alguns integrantes das Forças chegam a fazer um mea-culpa e apontam a escolha de nomes da caserna ‘excessivamente subservientes’ a Bolsonaro como um dos motivos que podem ter colaborado a levá-lo para atrás das grades”.
De imediato, aliados de Bolsonaro acusaram o golpe. Esses aliados – “integrantes do núcleo mais próximo do ex-presidente”, conforme Mônica Bergamo – avaliam que “a falta de apoio entre os militares deve ser decisiva para uma condenação e até eventual prisão”. Fora do Planalto, Bolsonaro contava com a pressão dos militares sobre o Judiciário para escapar de condenações.
No entanto, ao menos no Exército, a preocupação maior – e talvez única – do momento é decidir o que fazer com Mauro Lourena Cid e com seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante-de-ordens de Bolsonaro. Os dois estão no centro da transação ilegal de joias sauditas que pertencem ao acervo da União, mas foram usadas desviadas e vendidas a pedido do ex-presidente.
“Os indícios de que tanto o tenente quanto o general manejavam recursos de caixa dois em benefício de Bolsonaro teria desmoralizado qualquer tentativa de militares de interferir nos processos. Pela mesma análise, eles lavaram as mãos e se afastaram do problema, deixando Bolsonaro de lado”, diz Mônica Bergamo.
Os militares já tiveram uma chance de se desvincular em definitivo de seu ex-capitão. Em 1986, quando Bolsonaro era paraquedista do Exército, a Justiça Militar o prendeu por 15 dias. Em artigo à revista Veja, o então oficial propunha um motim dos subordinados. A publicação também acusava Bolsonaro de planejar a explosão de bombas-relógio em instalações militares no Rio de Janeiro. Apesar das denúncias, Bolsonaro foi absolvido em segunda instância.
Diferentemente do que se espalhou nas redes sociais, ele não chegou a ser expulso do Exército. Mas a acusação de ter ferido a ética, gerado clima de inquietação na organização militar e comprometido a disciplina levou a instituição a não diplomar seu oficial rebelde – e Bolsonaro trocou a carreira militar pela carreira política. Em 29 de novembro de 2018, um mês após a eleição de Bolsonaro ao Planalto, o Exército promoveu uma cerimônia sigilosa e entregou ao presidente eleito o diploma de capitão, reabilitando-o.
Passados quase cinco anos, o Exército já cogita a expulsão dos dois Cid, pai e filho – mas terá mais dificuldade para rifar Bolsonaro. Quanto mais se investigam os crimes do ex-presidente, mais aparecem impressões digitais militares. A imagem das Forças Armadas junto à opinião púbica ainda é majoritariamente positiva – mas o fator Bolsonaro tem potencial para arranhar ainda mais essa popularidade.
Fonte: Vermelho