Centenas de economistas lançam manifesto e cobram ações de Bolsonaro

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Um manifesto lançado ontem (21/03), com a assinatura de centenas de renomados economistas e banqueiros, exige dos governantes brasileiros medidas efetivas contra o avanço do novo coronavírus no País. A carta aberta – que tem mais de 500 adesões – será enviada nesta semana aos chefes dos três poderes: os presidentes da República, Jair Bolsonaro; da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; do Senado, Rodrigo Pacheco; e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

Entre as personalidades que referendam a carta estão os ex-ministros da Fazenda Pedro Malan, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira e Ruben Ricupero, além dos ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Pérsio Arida. Também há nomes ligados ao mercado financeiro, como Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco) e José Olympio Pereira (Credit Suisse).

O principal alvo do documento é Bolsonaro, cuja gestão negacionista e negligente da crise sanitária transformou o Brasil no “epicentro mundial da covid-19, com a maior média móvel de novos casos”. Economistas e banqueiros alertam para a “situação econômica e social desoladora” do País e mencionam o quadro “alarmante” do sistema de saúde brasileiro, com o esgotamento dos recursos na grande maioria dos estados e o insuficiente número de leitos de UTI, respiradores e profissionais de saúde.

O Brasil atravessa hoje seu momento mais grave da epidemia de covid-19. Nesta semana, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que o país passa pelo “maior colapso sanitário e hospitalar da história”. A média móvel de mortes ligadas à doença chegou a 2.234 neste sábado (21), batendo um novo recorde pelo 22º dia consecutivo. O sistema de saúde está em colapso. Hospitais enfrentam escassez de leitos e alertam para falta de medicamentos para intubação de pacientes.

O manifesto dos especialistas detalha como a pandemia assolou a economia, com uma taxa de desemprego de 14%, “a mais elevada da série histórica”, e a contração do PIB de 4,1% em 2020. A recessão afetou “desproporcionalmente trabalhadores mais pobres e vulneráveis”. A crise econômica, dizem, “não será superada enquanto a pandemia não for controlada por uma atuação competente do governo federal”.

O documento denuncia que o governo Bolsonaro “subutiliza ou utiliza mal os recursos de que dispõe, inclusive por ignorar ou negligenciar a evidência científica no desenho das ações para lidar com a pandemia”. Por isso, defendem a adoção de políticas públicas com base em dados, experiências internacionais bem-sucedidas e evidências científicas.

“Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia, e é fundamental que a partir de agora as políticas públicas sejam alicerçadas em dados, informações confiáveis e evidência científica. Não há mais tempo para perder em debates estéreis e notícias falsas”, aponta a carta aberta. “Precisamos nos guiar pelas experiências bem-sucedidas, por ações de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situação sem precedentes que o país vive.”

Para conter a Covid-19, eles sugerem quatro medidas “indispensáveis”: acelerar o ritmo de vacinação; incentivar o uso de máscaras, com distribuição gratuita e mais orientação; implantar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação federal; e criar uma coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional. Para o grupo, a saída definitiva da crise requer a vacinação em massa da população – uma questão ainda mais urgente devido ao surgimento de variantes mais contagiosas do novo coronavírus.

“Infelizmente estamos atrasados. As consequências são inomináveis”, diz o texto, lembrando que, no ritmo atual, o Brasil levaria mais de três anos para imunizar toda a população. As vacinas, com “um benefício privado e social elevado”, além de um custo “comparativamente baixo”, diante do “custo que a pandemia impõe à sociedade. Poderíamos estar em melhor situação, o Brasil tem infraestrutura para isso. Em 1992, conseguimos vacinar 48 milhões de crianças contra o sarampo em apenas um mês.”

Segundo os economistas, o problema está “na negligência com as aquisições” de doses da vacina por parte do governo. “A insuficiente oferta de vacinas no País não se deve ao seu elevado custo, nem à falta de recursos orçamentários, mas à falta de prioridade atribuída à vacinação.” Ademais, o grupo classifica como urgente e essencial o reforço de medidas de distanciamento social, assim como a introdução de incentivos e políticas públicas para uso de máscaras mais eficientes, “em linha com os esforços observados na União Europeia e nos Estados Unidos”.

Na contramão do resto do mundo, Bolsonaro vem minimizando a gravidade da doença e atacando as medidas restritivas desde o início da crise, preferindo, em vez disso, apostar em drogas que se comprovaram ineficazes contra o vírus, como a cloroquina. “O quadro atual ainda poderá deteriorar-se muito se não houver esforços efetivos de coordenação nacional no apoio a governadores e prefeitos para limitação de mobilidade”, diz o texto.

Contrário ao lockdown, o presidente alega que a economia não pode parar. Segundo o manifesto, há um “falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável” – mais uma fake news de Bolsonaro. “Dados preliminares de óbitos e desempenho econômico sugerem que os países com pior desempenho econômico tiveram mais óbitos de Covid-19”, afirma a carta.

Até países que optaram inicialmente por evitar o lockdown acabaram adotando-o com o agravamento da pandemia, como o Reino Unido. “Estudos mostraram que, diante da aceleração de novos casos, a população responde ficando mais avessa ao risco sanitário, aumentando o isolamento voluntário e levando à queda no consumo das famílias mesmo antes ou sem que medidas restritivas formais sejam adotadas”, acrescentam.

“A recuperação econômica, por sua vez, é lenta e depende da retomada de confiança e maior previsibilidade da situação de saúde no país. Logo, não é razoável esperar a recuperação da atividade econômica em uma epidemia descontrolada”, destacam os especialistas.

Na opinião deles, enquanto a pandemia continuar devastando o País, medidas que apoiem a população mais vulnerável, como o auxílio emergencial, são fundamentais. Ações de apoio às pequenas e médias empresas também se fazem necessárias, afirmam.

Fonte: Portal Vermelho com informações da DW

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