Inflação, desemprego e pandemia: os flagelos do bolsonarismo

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Um conhecido fantasma volta a rondar os lares brasileiros. Trata-se da inflação alta, influenciada por preços de produtos básicos como alimentos e combustíveis. O mercado financeiro elevou a projeção da inflação oficial para 2020 pela décima sétima semana seguida, e agora a previsão ficou acima da meta central, de 4%. A previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 3,54% para 4,21%, segundo o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central (BC).

Há ainda a bandeira vermelha nas contas de luz que vigora a partir deste mês, que terá impacto só era esperado em 2021 – em maio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) havia fixado a bandeira verde até dezembro, mas acabou em novembro. Já os preços controlados pelo governo, como os de medicamentos e de planos de saúde, adiados este ano por causa da pandemia, vão pesar também na inflação de 2021.

As estimativas para 2021 são igualmente de alta, com a possibilidade superar o centro da meta pelo terceiro ano seguido. Com o agravante da recessão deste ano e a previsão de uma recuperação lenta da economia no ano que vem. Há ainda o peso dos reajustes represados por causa da pandemia, que devem ser descarregados agora e frear a retomada do consumo no início do ano.

O crescimento da China, que deve ficar em 8% no ano que vem, será o principal fator de pressão sobre os preços dos alimentos. As importações chinesas deverão exercer forte impacto no preço dos alimentos. As consequências devem ser sentidas já no primeiro semestre; além da inflação próxima a 6% e do desemprego elevado, haverá o fim do auxílio emergencial.

O crescimento da China, que deve ficar em 8% no ano que vem, ao passo em que revela a grande capacidade de recuperação daquele país em meio à crise da Covid-19, que afetou a economia mundial, deverá aumentar a demanda mundial de alimentos, o que pressionará os preços. As consequências devem ser sentidas já no primeiro semestre; além da inflação próxima a 6% e do desemprego elevado, haverá o fim do auxílio emergencial.

Por conta dessa pressão inflacionária, há a possibilidade real de alta na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 2% ao ano – enquanto economias ricas como as dos Estados Unidos da União Europeia praticam taxas em torno de zero e até negativas. Esse cenário também servirá de pretexto para o governo Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, pressionar pelo “ajuste fiscal”, com mais reformas de desmonte do Estado, como a administrativa, e aceleração das privatizações.

É a velha tese de arrocho nos investimentos em geral para estabilizar o pagamento de juros e a rolagem da dívida pública como condição para a atração de investimentos privados – a fórmula mágica de Guedes para a retomada da economia. Com a dívida pública caminhando para 100% do Produto Interno Bruto (PIB), o governo se vê na contingência de adotar medidas como essa para não alterar o rumo da sua política econômica.

E quem paga o preço é o povo, sem acesso às benesses do mercado financeiro e sofrendo com as precariedades dos serviços públicos – especialmente nesses tempos de pandemia –, com o desemprego e com a carestia de produtos básicos, um cenário que combina diversos fatores que fermentam uma situação com alto teor explosivo. Compreendê-lo para atuar sobre ele é o grande desafio do momento.

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